O que as crianças vêem na televisão?

O que as crianças vêem na televisão? Profª Maria Esperança de Paula O presente artigo tenta responder a pergunta acima utilizando dados coletados na pesquisa de Mestrado: Os usos sociais que as crianças fazem das mídias na vida. Evidentemente as crianças vêem aquilo que oferecemos, assistem o que disponibilizamos nas redes televisivas, informações do mundo dos iguais, adultos e crianças tendo acesso as mesmas informações. Embora para criança assistir televisão seja um ato de brincadeira, a preocupação dos adultos é vista como contraditórias atitudes que definem a infância. Segundo Winnicott (1975), brincar é toda atividade saudável que tem a função de propiciar às crianças um desenvolvimento saudável e uma aprendizagem prazerosa, que oportuniza relacionamentos significativos. Além do mais, o ato de brincar pode produzir na criança valiosas experiências de comunicação consigo própria e com o outro. A mídia mais presente na vida das crianças pesquisadas é a televisão. A maioria das crianças acha que assistir à televisão é uma brincadeira. Ela está presente na fantasia e imaginação que circunda o cotidiano dessas crianças. Mas por que a televisão causa tanto fascínio nas crianças? Na verdade tal fascínio não se refere ao aparelho, mas sim às imagens projetadas na telinha e à linguagem que é de fácil entendimento da criança. Não são recentes as preocupações e indagações dos adultos em relação ao poder da imagem, das possíveis influências da violência televisiva e dos jogos eletrônicos do possível condicionamento de reforço de ideais políticos em forma de manipulação da sociedade. Portanto, não conhecemos a verdadeira valoração e influência, mas sabemos do poder e do fascínio da linguagem icônica, pois vivemos em uma sociedade onde a informação visual exerce uma influência forte e poderosa através dos elementos que constituem uma imagem. Mas, se a criança acredita que essas tecnologias midiáticas são brinquedos, elas nos induzem a questionar o significado dos brinquedos em suas vidas. O que aconteceu com a pipa, a bola, o carrinho de rolimã, a boneca e as panelinhas? Benjamim (2005) responde a essa pergunta pontuando que sempre pertenceu à infância brincar de imitar os adultos, “O brinquedo, mesmo quando não imita os instrumentos adultos, é confronto, e, na verdade, não tanto da criança com os adultos, mas desses com a criança”. Segundo, Benjamin (id., p. 96), faz parte da trajetória histórica da humanidade, o hábito de cultuar metaforicamente os brinquedos como miniaturas de objetos de adultos: é uma vassoura, um ferro, umas panelinhas que dão significado a um desdobramento da vida adulta. Dando continuidade a essa trajetória, percebemos, atualmente, o uso dos aparatos tecnológicos como brinquedo. Não podemos dizer que a criança utiliza esses aparatos por necessidade, há “um grande equívoco na suposição de que são simplesmente as próprias crianças, movidas pelas suas necessidades, que determinam todos os brinquedos.” (Benjamin, id., p. 97). A criança brinca com o que lhe é oferecido pelos adultos ou pelo mercado de brinquedos; ela brinca com o que tem no momento para brincar. “Já não se tem mais isto”, “ouve-se com frequência o adulto dizer ao avistar brinquedos antigos. Na maior parte das vezes isso é mera impressão dele, já que se tornou indiferente a essas mesmas coisas que, por todo canto, chamam a atenção da criança.” Benjamin, (id., p. 84) apresenta uma interessante e significativa relação entre a imagem e o brincar, um prognóstico da trajetória do brinquedo que auxilia o entendimento das mudanças do olhar e do novo sentido que a criança deposita nos objetos midiáticos denominando seus usos como brinquedo. Apesar da distância histórica entre os apontamentos sociais de Benjamim(2005), em relação aos brinquedo e as manifestações das influências tecnológicas contemporânea, suas teorias servem para sustentarmos com profundidade, as questões culturais e sociais que determinam e sustentam o brincar das crianças no contexto das mídias eletrônicas. Na concepção das crianças, assistir à televisão, assim como usar o computador ou cantar acompanhando o CD, ou jogar videogame, é uma brincadeira, é como se fosse um jogo. Utilizando as imagens ou sons, as crianças fantasiam e fingem serem personagens, entram no mundo da imaginação e criatividade. Usam as imagens midiáticas para construírem hipóteses a partir do que experimentam e vivem. Referências Bibliográficas BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Editora 34, 2005. WINNICOTTI, D.W. O brincar e a realidade. Tradução: José Octavio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1975. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações – comunicação, cultura e hegemonia. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.